“Canini morreu...” disse eu secamente ao me conectar em uma
rede social que estampava a triste notícia, enquanto minha mãe ligeiramente
soltou um “ai...” como uma alfinetada anestésica que enquanto espeta o corpo
adormece a mente.
Conclui de ler a notícia em voz alta para nós dois (minha
mãe e eu). Enquanto digito essa pequena homenagem com a garganta presa e os
olhos cintilantes, me carrego da certeza de quem eu quero falar. É dessa pessoa
que ao nos deixar, desperta alfinetada na alma e uma sensação de vazio, que faz
gente como minha mãe, que mesmo vivendo no mundo das artes através dos seus
dois filhos desenhistas conheceu Canini muito pouco se é que o conheceu, soltar
involuntariamente um “ai”, após ouvir súbita uma má noticia dessas.
Conheci Canini pouco, realmente. É o tipo de pessoa que eu
gostaria de ter conhecido bem cedo. Conheci-o em um evento de quadrinhos,
organizado pelo amigo e cartunista André Macedo (ALMA) em parceria com o jornal
Diário Popular. Depois o reencontrei mais uma ou duas vezes, em eventos de
cartunistas ou sendo homenageado – cidadão pelotense! (o que muito me orgulha,
diga-se de passagem). Tive a oportunidade de ter meu trabalho veiculado junto
do trabalho dele, no jornal +Ou- Digraça, publicação editada pelo André Macedo
e encartada no jornal Diário Popular. E mesmo tendo poucos momentos de
conversas silenciosas com ele (pois era um tímido convicto, assim como eu e
muitos outros desenhistas que sabem falar bem com os traços, não com as cordas
vocais), sentia em seu semblante, seu brilho no olhar uma humildade que jamais
encontrei em nenhum desenhista, artista quiçá um grande mestre até hoje. Sua
esposa, Lourdes, também cartunista, é de igual humildade. Era um casal gigante
em todas as emoções e sabedoria de ver e lhe dar com o mundo, e passavam com
toda sua grandiosidade, quase despercebidos da multidão. Longe da soberba.
Canini ficou famoso por abrasileirar o Zé Carioca, dos
estúdios Disney. Por tornar brasileiro de verdade o personagem que devia
representar o Brasil. Pois bem, o fez com maestria. Desde a geração passada até
a minha, tivemos na infância a marca de um papagaio malandro, realmente carioca,
de traços finos e rápidos, como era o estilo icônico do Mestre Renato Canini.
Sua criatividade não se limitou a “remodelar” o já criado. Canini criou vários
personagens incríveis, tais quais: Dr. Fraud, Kactus Kid e Tibica. Tinha em
suas criações uma genialidade, simplicidade e finesse dignas dos gênios das
artes. Um traço único, só pra fechar a marca de Gênio com letra maiúscula.
Mesmo com pouco contato, eu tinha o maior carinho pelo Canini (e Lourdes, é claro) é o tipo de pessoa que você queria ter perto, como amigo, avô, tio, pai, filho, colega de trabalho ou de bar. Realmente, o tipo de pessoa que tem a percepção de ver o mundo com olhos de criança, com inocência, doçura e passava esse seu miúdo vasto mundinho para os outros. Embora certamente houvesse furacões e tempestades na mente criativa de Canini, externamente nada mais além do que cabia ao próximo – gentileza e sensibilidade.
Mesmo com pouco contato, eu tinha o maior carinho pelo Canini (e Lourdes, é claro) é o tipo de pessoa que você queria ter perto, como amigo, avô, tio, pai, filho, colega de trabalho ou de bar. Realmente, o tipo de pessoa que tem a percepção de ver o mundo com olhos de criança, com inocência, doçura e passava esse seu miúdo vasto mundinho para os outros. Embora certamente houvesse furacões e tempestades na mente criativa de Canini, externamente nada mais além do que cabia ao próximo – gentileza e sensibilidade.
Canini, aquela pessoa de olhos grandes e brilhantes, boca
emudecida, semblante ingênuo, jeito simples, bagagem fenomenal e criações
fantásticas, nos deixou... Deixou seu legado e sua falta como todo grande
artista sempre faz.
Canini... Obrigado por ter me tratado com tamanha humildade
e permitido que eu vislumbrasse um mundo onde gênios tornam-se gigantes
imortais num simples aperto de mão.
Ao Canini, desejos de paz e um grande e reconfortante abraço
na Lourdes que os traços não te deixem.
- Um abraço meu, do
Fábio e da Evanir.
* Impossível lembrar-se do mestre Canini sem recordar outro
mestre de sua arte, também gaúcho... A arte de um lembra a vida de outro... E
vice e versa:
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
- Mário Quintana -
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